domingo, 25 de julho de 2010

Um contra todos

Esses dias tem sido muito reveladores para a América Latina, eles tem sido historicamente marcantes assim como um compositor que encontra o conjunto correto de notas para formar a sua melodia ou um arquiteto que descobre a forma mais inédita para a fachada de uma obra que assina. Mas a música atual dos latinos não tem a felicidade da rumba, a graciosidade do tango ou a amorosidade da bossa nova, mas pendem mais para a marcha fúnebre de Chopin ou algo no mesmo tom triste e melancólico do mestre do piano.
A América Latina que sempre foi um barril de pólvora, acendeu mais um pavio que ganha forças por estar vivendo uma das piores safras de presidentes que já se teve notícia nas últimas duas décadas, somando-se a isso a ressaca que todos vivem por conta da crise financeira mundial de 2008/2009 que foi um soco no estômago do capitalismo democrático e serviu de impulso para o capitalismo de estado - obra dos nossos distantes amigos chineses.
Da atual contenda temos o seguinte: O presidente da Colômbia , Álvaro Uribe, acusou o governo da vizinha Venezuela de abrigar guerrilheiros e campos de treinamento, das Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas) em suas selvas. Hugo Chavez, o todo poderoso líder revolucionário e muitas vezes "napoleônico" se irritou e tomou para si todas as possíveis dores dessa história que envolve a Colômbia, a Venezuela, o Equador e o Brasil. Um quarteto nada fantástico.
Uribe, fora eleito tendo como plataforma de campanha acabar com as Farc e consequentemente como o narcotráfico que muitos consideram o maior produto tipo exportação da Colômbia. Uribe, teve declaradamente apoio do governo dos Estados Unidos, na época governado por Mister George Walker Bush. O apoio era tão irrestrito que falou-se em Bogotá permitir uma base americana em suas terras, justamente para em trabalho conjunto entre os dois governos somarem forças para atacar aquela que é considerada uma das maiores quadrilhas que existem na América do Sul - as Farc. Nesse episódio, Chavez, que não tinha nada a ver com a história, ameaçou cortar relações com a Colômbia, alegando que os Estados Unidos queriam na verdade ter espaço no lado sul do continente assim com tem no continente africano, por exemplo. 


Ainda tendo as Farc como motivos para brigas, outro episódio, envolveu agora o Equador de Rafael Corrêa, filho político de Hugo Chavez e que também ascende às idéias Bolivarianas, Fidelistas e a todas idéias possíveis que norteiam a mente de um esquerdista.
Nesse capítulo, o exército colombiano invadiu o território equatoriano para dar cabo de agentes das Farc - agentes do primeiro escalão inclusive, numa mostra clara que não seriam fronteiras, rodeadas por selva, que iriam impedir a caça aos bandidos narcotraficantes das Farc. Quito, amparado por Caracas, reagiu com toda veemência possível, bem como uma vizinha reage ao vidro da janela quebrado pela bola dos garotos da frente, e os dois países hermanos cortaram relações diplomáticas com Bogotá. Nesse ponto, tanto Washington como Brasília entraram em cena para acalmar os nervos já que os dois países melindrados botaram seus contingentes à postos de combate na fronteira com a Colômbia - e ameaçaram prender o presidente colombiano caso ele pisasse em seus territórios.
As intervenções funcionaram, a poeira e os ânimos baixaram e todos voltaram a ser bons vizinhos, daqueles que pelo menos dão bom dia, mas nada além, até a semana passada quando as crianças voltaram a brigar por causa da bola.
Tomando como base que os atuais governantes das nações latinas não sejam os melhores que já tenham existido e que a sua maioria é composta de esquerdistas cabeças-de-vento, dentre eles Chavez sendo o maior de todos, podemos notar que essas brigas, rixas e afins que tem cercado os noticiários vão muito além da guerra às drogas. Podemos dizer que Álvaro Uribe é aquele típico bom aluno que senta nas primeiras fileiras, mas que chega de surpresa no meio do ano, sem conhecer bem os outros alunos ou a turma como um todo e para seu azar essa turma tem mais alunos do fundão do que alunos preocupados com a própria formação.
Uribe se destaca dos demais políticos pois não tem uma formação de esquerda como o tem Chavez, Corrêa, Morales e Lula. Logo, não vive a utopia de uma América Latina com bandeiras vermelhas tremulando, sob as estátuas de Lenin, Marx, Fidel e Guevara. Uribe, vem de uma escola muito menos fanática, pois vem da direita moderada. E tendo um curriculum desses tornou-se pedra no sapato daqueles que querem uma governança absolutamente marxista e bolivariana nas terras latinas.


A atual briga se dá porque Uribe não só acusa a Venezuela de protejar as Farc em suas terras, como tem provas e mais provas de que seus vizinhos não são lá flor que se cheire. Venezuela, Equador e o Brasil estão envolvidos com as Farc até o pescoço e aqui estamos falando de pessoas dos altos escalões dos governos: ministros, deputados, juízes das supremas cortes e assessores das grandes pastas. E a partir do momento em que Uribe teve acesso a estas informações, não teve dúvida, pôs a boca no mundo. A estridente cena feita por Chavez, prova apenas que é tudo verdade, pois em outras circunstâncias, a diplomacia teria feito sua parte, mas Chavez nunca foi muito adepto das formas civilizadas de tratar seus problemas. As Farc sempre tiveram o apoio dos governos de esquerda que aqui a América Latina tem a rodo, como se diz no popular e aparentemente o "vice-versa" acontece, afinal em uma relação de tantos poderes, uma mão tem que lavar a outra para que o sistema podre continue existindo e quando se trata de tantos poderes assim é de se esperar ou ao menos supor que os presidentes, em seus gabinetes e com toda a máquina administrativa em mãos, estejam bem a par do quem tem ocorrido. Para esse caso das Farc, Lula não poderá dizer que não sabia de nada, como fez com o caso do mensalão e principalmente o Legislativo e o Judiciário não poderão se fingir de plantas como fizeram para dar fim a aquela história.


A de se analisar alguns pontos contra Álvaro Uribe. Primeiramente ele errou ao deixar o exército colombiano invadir terras estrangeiras. Sim, ele tinha motivos, mas nesse ponto a soberania territorial do Equador foi arranhada, mas nada que levasse a Quito a chamar de volta pra casa seu embaixador. Segundamente, Uribe tem em mãos documentos e emails que comprovam a participação de governos estrangeiros apoiando explicitamente as Farc, Venezuela, Equador e Brasil, mas Uribe não gritou aos quatro cantos do mundo a respeito do amigo tapuia, ao contrário, tratou com total discrição o nome do Brasil (leia-se petistas e Lula) no envolvimento do caso. Mas o país das chuteiras está tão colado a esses trapos quanto o país das misses universos. Ora, se Uribe quer realmente acabar com as Farc, utilizando-se dos meios legais que existem, ele deveria ter usado o mesmo peso que usou em Chavez para Lula, mas aparentemente as relações comerciais que os dois países tem falou mais alto e Uribe tirou a boca do trombone quando apontou para Brasília - algo feio para quem em teoria respeita a democracia em seu país e que nesses canaviais latinos tem sido uma das poucas canas a dar boa garapa e não aguardente como são os demais.


Espera-se que tudo isso termine com o enfraquecimento e destronamento das forças ilícitas que atuam na américa latina, desde as Farc até aos casos brasileiros como o Comando Vermelho no Rio e o PCC em São Paulo. Que mais esse episódio, seja o final de uma temporada e que na próxima, os personagens principais tenham mais dignidade e caráter para assim como fazem os amigos ianques nunca negociar com terroristas, porque eles podem ter a triste musicalidade do jazz e do blues, mas são também os pais do bom e velho rock in roll, que pode as vezes até estar fora de moda, assim como a democracia na américa latina, mas eles sabem como poucos a forma de  levantar platéias em megashows com mais de duzentos mil participantes, assim como sempre empolgaram seus compatriotas com o bom uso das forças democráticas e dela própria em seu estado mais ideal e puro. 
Aprendamos, pois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário