A democracia criada inicialmente pelos antigos gregos, assim como o capitalismo democrático com o seu anti-trust criado pelos americanos no início do século XX, acabaram ao longo dos anos, passando por várias etapas que modificaram as idéias iniciais dessas filosofias criadas pelo homem moderno. A democracia como a conhecemos hoje teve seus altos e baixos ao longo da história, principalmente na Europa que viu suas terras passarem por duas guerras mundiais e por várias revoluções, apenas para citar três das mais importantes: a Francesa, a Russa e a revolução industrial na Inglaterra que é hoje considerada a mãe do capitalismo que começou nos Estados Unidos e mudou a cara do mundo como o conhecemos. Mesmo o capitalismo brilhantemente criado e defendido pelos ianques tem tido suas novas variações, o maior exemplo é o atual monstro criado pelos chineses - o chamado capitalismo de estado. Justamente eles que nunca foram em mais de 5 mil anos de história adeptos de qualquer forma de democracia, o que para eles, sim é um monstro criado pelo homem moderno.
A democracia com todas as suas mutações e adaptações para ser um pouco darwnista também sempre teve seus altos e baixo na América latina, onde praticamente todos os países enfrentaram quedas de governo, por força de golpes militares como no Brasil que não teve um ditador mas viveu sob um regime militar que perdurou duas décadas , por força de ditadores que subiram ao poder como em Cuba com Fidel e Raul Castro e Ernesto Guevara a até mesmo por força da própria democracia como no caso brasileiro do ex-presidente Fernando Collor que foi caçado por conta de uma Elba.
Em todos esses casos a democracia foi veementemente atacada e muitas vezes ficou vagando como um fantasma por conta de governos autoritários. Hoje, a América Latina vive um processo parecido com o que tem ocorrido com o capitalismo democrático, que ganhou uma versão "gêmeo mau" com o capitalismo de estado dos chineses. A democracia tem sofrido maus tratos por conta do uso torpe que os governantes tem dado à mesma. Um exemplo disso é a Venezuela que tem um presidente há oito anos no poder e que por força de lei ou seja através da democracia pode ser eleito quantas vezes ele bem entender - um modelo muito parecido com o adotado pelos irmãos Castro na ilha de Cuba, mas com um tom agravante, esse modelo usado por Chavez veste-se com roupas que tem a etiqueta da democracia e vale lembrar que o presidente Lula tentou mas não conseguiu, implantar no Brasil uma idéia fuinha como essa. Graças à oposição que corrupta que é, jamais deixaria toda a farinha do saco apenas para os esquerdistas do PT - no caso tapuia não foi uma vitória da democracia como aparenta à primeira vista, foi na verdade a panelinha que se mexeu para não perder o que é seu, pelo menos na visão deles - é claro.
Ainda na geografia latina temos a nossa vizinha: a Argentina, que não tem uma história democrática muito diferente dos demais, mas diferentemente dos demais sabe valorizar sua tão triste e conturbada face democrática. Face que por muitas vezes foi dada à tapa pelas mãos da história e de tiranos que a construíram.
A Argentina que tem uma história parecida com a brasileira, já sofreu duros golpes, com os militares, com a economia e até com o futebol. No campo econômico a Argentina ficou marcada pelos "panelaços" que foram protestos feitos em sua maioria por mulheres no final dos anos noventa que foram às ruas para reenvindicar melhores atitudes do governo que via sem nada fazer a sua antes sólida economia se esvair como sorvete fora do freezer em dia de verão e apenas para ressaltar essa parte culminou com a renuncia do presidente De La Rua que saiu da sede do poder às pressas em um helicóptero. Outra página importante no campo das cifras foram os "curralitos" que eram nada mais nada menos que o congelamento das contas bancárias dos argentinos que da noite para o dia ficaram sem um peso no bolso.
A parte dos militares tem lados sombrios que beiram os bons roteiros de terror americano ou para ser mais portenho, dariam um bom tango. Nos anos sessenta os militares chegaram ao poder e mostraram aos argentinos a fúria do poder, levando o país a viver os seus anos de chumbo, que só terminaram no início dos anos setenta com a volta do Peronismo e da ala "trabalhista" à Casa Rosada.
Dentro desses contextos a Argentina aprendeu pelo menos em parte a valorizar os bons ares da democracia. E cá cabem dois bons exemplos: O presidente do congresso argentino é também constituído do cargo de vice-presidente que não pertence ao mesmo partido do presidente do país o que nesse caso há bônus e ônus, mas que demonstra a forte veia democrática da Constituição. Outro caso que pode ser citado é o reflexo do estado laico - quando o país isenta-se de ter uma religião oficial, que geralmente dá margens para atos e fatos oficiosos e que vão contra a democracia, como o caso do Irã. E aqui passa a existir um dos atos mais democráticos que os países latinos já puderam criar.
Os hermanos tornaram oficial o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mesmo sob forte protestos de católicos, protestantes e ativistas que lutam pela instituição da família. O que cabe aqui mencionar é o uso da democracia, aquela mesma fecundada pelos gregos, para modificar a constituição e consequentemente a história de uma nação em prol da defesa de uma determinada minoria e da nivelação social e judicial de todos os cidadãos. Resumindo esse tango e não a ópera, os argentinos concretaram com solides as bases da democracia e deram em comparação às demais nações latinas um salto de anos luz.
Alterar a constituição em prol dos gays não é muita novidade no mundo, pois temos como exemplo os Estados Unidos, alguns países na Europa e até mesmo a África do Sul, um país considerado de terceiro mundo - ou para usar uma linguagem moderna - um país emergente. Mas nunca essa força democrática havia sido ousadamente usada nas sedes de poder latino, que devido as colonizações espanholas e portuguesas sempre tiveram um fortíssimo tom católico.
Nesse tango chamado democracia argentina, que sempre teve muito mais espinhos do que flores as flores a partir de agora serão mais coloridas, graças as bandeiras do arco-íris e principalmente da democracia que tem sido hasteada nos mais céus das nações que lutam por seus cidadãos e o final desse tango não será como de habitual nenhuma tragédia, mas sim a base para novas etapas nessa estrada que leva à soberania democrática.
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