sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Do preço da palhaçada

"Raramente começa a corrupção pelo povo" disse Montesquieu, mas no nosso caso, bem como em países onde a Justiça não trabalha em prol da democracia, a corrupção nada mais é do que o reflexo da vontade do povo, dos resultados das urnas, que em uma democracia é preceito básico para que ela mesma exista.
Existe o juiz, a bola, o gramado, o estádio, a torcida, os jogadores e a imprensa - mas não existem as regras. Aliás, até existem, mas não colam para jogadores que ganham salários astronômicos. Mesmo que a torcida grite: é pênalti, o juiz não marca. Mas nesse caso, a torcida não grita nada. A imprensa finge que não é com ela, mas todos continuam indo e lotando os estádios.

Pão e circo para o povo. Bolsa Família e o futebol global de domingos e quartas. Do império Romano para cá, parece que não evoluímos muito em matéria de política a mais nobre das artes humanas. Com isso, tem se um povo que não gosta do assunto o que deixa as portas abertas para aqueles que não só não gostam como também sabem usar de má fé para orquestrar o samba enredo. Ah no caso dessas portas - são as do inferno que estão escancaradas.
O Brasil juntamente com a Alemanha, são os países que mais se paga impostos. E é sozinho no topo da lista o país que tem os congressistas mais perdulários. Nem a Suécia tem um montante desses.


Essa semana os congressistas aumentaram mais uma vez seus próprios salários e agora vão receber algo em torno de vinte e seis mil reais por mês, apenas de salário, sem levar em conta todas as mordomias que o intocáveis tem. Para o povo resta um salário mínimo de menos de seiscentos reais.
Para fechar as notícias com a mais podre das chaves, Paulo Maluf deputado federal eleito por São Paulo, teve a ficha suja jogada no lixo e assim pôde tranquilamente ser diplomado para mais quatro anos de total roubalheira. E quem pagará por todas essas contas ? O bom e velho povo como continua pagando ingresso para o jogo, entende-se gosta do espetáculo que vê, independente do resultado do placar.
Lula e seus comparsas de esquerda, adotaram uma retórica que pegou como a última moda do verão - que a elite dominante do país (a direita) nunca havia feito nada pelo povo. Mas com ele a coisa foi bem diferente. Mentira. Simples assim. Lula deixa o governo de forma oficial, mas também deixa rombos e rombos dos oito anos de banquetes dados para seus amigos. Dilma já deve ter visto o extrato da festa e deve estar amargamente arrependida de agora ter que tapar os buracos. Não que ela não faça parte dos festejos, mas agora a coroa está em sua cabeça.


Nesse reinado onde o papel de bobo é claramente dado ao povo, só nos resta esperar o fim dos tempos medievais para entrarmos quem sabe um dia na era das nações democráticas, onde uma tal de justiça não só não tarda com também não falha. Bem, pode até falhar e tardar, mas pelo menos existe.


Bom Natal a todos. 

sábado, 18 de dezembro de 2010

Horrorfobia

Por esses dias, tem se visto agressões e mais agressões a gays na Paulista. A Paulista, justo ela, que é um símbolo para os gays. Um símbolo da liberdade. Liberdade mentirosa, que liberta apenas por um dia.
Esses ataques a homossexuais (que palavrinha como diria Mario Prata), mostram apenas uma coisa: Não houve mudança. Os gays não conquistaram nada. Os direitos preteridos pelos gays são os direitos de serem iguais aos demais. Simplesmente por que o são. O que se faz na cama entre quatro paredes não pode ser motivo para levar uma "lampadada" no rosto, ou um murro provido por uma arma branca - o soco inglês. A liberdade da maioria não é atacada quando em apenas um dia do ano, os gays saem as ruas (no caso Paulista, na Paulista) para celebrar seu orgulho, ela é atacada quando uma minoria é veementemente aniquilada. Sempre foi assim, sempre será, basta olhar para trás para se entender o presente.


A democracia não foi feita para os santos, como bem disseram os autores de "O Federalista", grosso modo ela é a vontade da maioria do povo. Mas a democracia tem um ponto fundamental em sua ideologia. Embora seja a vontade da maioria, ela defende igualmente a minoria - caso contrário seria um regime totalitário. E nesse aspecto, exterminar pessoas, pelo simples fato de elas gostarem de alguém do mesmo sexo, não é nada democrático. Aliás, no Brasil isso não está implícito, mas sim explícito. Homofobia é crime, tanto quanto sequestrar, estuprar ou vender cocaína. 
Coloquemos a atual situação da seguinte maneira. Se ao invés de gays sendo atacados na Paulista, tivessem sido mulheres estupradas? Ou então se jovens ricos tivessem sido sequestrados? A de se explicar e principalmente entender que o blog e o texto não estão fazendo apologia a esse tipo de crime, mas dando uma visão diferente de liberdade e por consequência, do preconceito que existe em torno de diferentes situações. Para cada caso, uma sentença diferente.
O estardalhaço que a sociedade teria feito seria bem mais gritante. Coisa de Jornal Nacional dedicar uma noite inteira para argumentar que vivemos em uma sociedade, não de poetas mortos, mas sim de monstros.


Harvey Milk e Gui Tronolone, são bons exemplos de defensores do bom combate contra a homofobia. Milk foi o primeiro gay na história americana a conquistar um cargo eletivo. Tronolone, na opinão do blog e do texto um dia também será. O que eles tem em comum? O fato de serem gays? Pelo menos sob uma primeira ótica não. O que eles tem em comum é a vontade de construir uma sociedade que aceita os gays, assim como se aceita tudo o mais que é colocado na gaveta de "diferente".
Essa etiqueta não pode ser usada para que animais ataquem as pessoas. Ataque que é se não apoiado abertamente por certos setores da sociedade, é aceitável de forma não oficial. Ou vamos agora dizer que os pastores e padres ficaram tristes e horrorizados com a pancadaria? No mínimo acharam até bom, afinal os gays são para estes, a escória do mundo. Ser gay não significa em nenhum momento não ser uma pessoa de fé.


Mas, voltando ao cerne da questão: A liberdade colorida. A liberdade constitucional de ir e vir de todo e qualquer cidadão, nos dias atuais, apenas os gays não a tem. 
Os gays, em uma interessante parcela, ricos, também são em uma interessante parcela, discretos, logo não querem exposição. E quando as pessoas de bem se calam, as demais podem dizer e fazer o que bem lhe vier na telha.
Panos de prato (um termo tronolinista) são a minoria da população gay. Eles tem mais destaque pois estão na mídia, mas não representam nem de longe a massa gay muito menos seus anseios e vontades. Que dirá as suas aspirações por liberdade e igualdade.


A homofobia é o terror explícito de dias em que a comunidade gay, navegou, navegou, mas não viu um porto seguro para ancorar. Homofobia é o nojo aos gays, é um ódio irracional e uma mostra de intolerância, não contra gays, mas contra humanos.
A horrorfobia é o medo desse terror. Horrorfobia é o nojo da sociedade contra os homofóbicos.
Abaixo a homofobia e viva a horrorfobia.



domingo, 5 de dezembro de 2010

Tio Sam na ativa

Essa semana, o mundo foi bombardeado mais uma vez pelo WikiLeaks: "órgão sueco que publica, em seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis." conforme indica o outro Wiki - o Wikipédia. E o grande irmão, esteve envolvido em apenas 99,99% dos casos relatados pelo Leaks. De tudo um pouco e do pouco quase tudo, a diplomacia americana não tem brincado em serviço, muito menos dormido no ponto, para os burocratas de Washington não há tempo ruim, não existe crise financeira mundial que os pare.
Desde  as guerras no Afeganistão e Iraque, passando pelo urânio em países como Irã e Coréia do Norte. Até que os bebedores de coca-cola aportaram no Brasil. Do relatório da Embaixada Americana em Brasília saíram conversas muito capitalistas  e também capciosas. Após o apagão de 2009, os Yankes se botaram em alerta máximo, para avisar o Tio Sam de que "haviam boas possibilidades no Brasil." 

A nossa falta de estrutura e de segurança nos setores energético e de infra-estrutura teriam sido vistos com bons olhos para que os Estados Unidos entrassem em contato com Brasília para tapar esses buracos - traduzindo, vender a estrutura que tanto nos falta, especificamente por causa de duas palavras: Copa e Olimpíadas.
O Brasil é a boa da vez. O Brasil é o país do futuro, como diria Renato Russo. Os dois maiores eventos esportivos e lucrativos do mundo terão hora e vez na terra do samba e da bossa. E para que ambos eventos não acabem em uma palavra que rima com a bossa, o mundo inteiro está de olho na capacidade e principalmente na execução dos planejamentos sugeridos, afinal fazer maquete e lobby é fácil, fazer uma copa e em seguida uma olimpíada nem tanto.

Existe uma desconfiança mundial sobre a capacidade do Brasil para dar conta dos recados.

A ver:

  • A falta de infra-estrutura como portos, aeroportos (principalmente), redes hoteleiras e estradas.
  • A violência: se para nós tudo o que acontece já faz parte do cotidiano, para outros países é caso de intervenção das forças armadas
  • A corrupção que fará de algumas pessoas ligadas aos eventos lucrarem e muito e no caso Brasileiro na cara dura.
  • Casos como o apagão de 2009 que podem voltar a se repetir
  • A obras destinadas aos eventos como os estádios que ainda estão em fase inicial

Para o Tio Sam a conta, como toda conta, é simples: Temos o terreno, mas não temos nem cimento e nem aço.
Os Estados Unidos não se tornaram a maior potência mundial desde o início do século XX, por terem olhos bonitos. Eles praticamente criaram o capitalismo e com ele o liberalismo, o empreendedorismo e até o terrorismo. Logo, investir e de forma pesada em nações que não tem o mesmo fôlego financeiro é na verdade o maior produto tipo exportação que eles tem. Foi assim na  África, na América Latina e na Ásia e o será no Brasil dos grandes eventos esportivos. 
Não é nenhum crime tal atitude, o que acontece no caso, é que a notícia teria saído de uma instituição que habitualmente mostra o rabo preso dos outros. Que parcerias entre países, existem, todos sabem - e é bom que existam mesmo, afinal a raça é uma só, mas vindo da fonte que veio dá margem para entendimentos sombrios. O Brasil, para dar vazão a todos esses futuros eventos vai precisar sim do auxílio de outras nações. um bom e recente exemplo de negócios entre nações envolveu a França e o Brasil na história da compra dos aviões de guerra.


Noves fora, ou seja, além do episódio que envolve as oportunidades canárias, o WikiLeaks mostra que os Estados Unidos ainda interpretam o papel de "Big Brother", aquele que tudo vê e a todos controla. A China tem tido picos e picos super-econômicos que a fazem ser hoje a segunda maior economia do mundo, alguns dizem que daqui pra frente o grande dragão vai engolir a águia da liberdade. Mas números econômicos a parte, a China está muito longe de tomar o primeiro lugar. Um dos  porquês é justamente a articulação diplomática e especialmente democrática que o Tio Sam tem. 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A Camisola do Papa

Suceder o Papa João Paulo II, não seria missão fácil para ninguém, mesmo para um teólogo brilhante, inclinado a manter as tradições e as idéias da Igreja como o Cardeal e braço direito do mesmo João Paulo, Joseph Ratzinger. O Cardeal muitas vezes foi fiel defensor de todas as idéias morais, políticas e consequentemente teológicas da Igreja. Quando eleito Papa, a revista VEJA trouxe-o na capa com o título de " A Igreja congelada" - afinal não era nenhuma novidade as idéias centristas e até antiquadas que o então Cardeal Ratzinger - prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé, exercia publicamente.

Aqui cabe uma breve análise: Ratzinger, foi o único cardeal com possibilidade de eleição que não havia sido sagrado cardeal pelo atual Papa, João Paulo II. Ambos já haviam sido amigos de vida cardenalícia inclusive na eleição que escolheu Dom Karol para o pontificado.
Segundamente, Ratzinger, pela formação teológica e católica, exercia no pontificado de João Paulo II, um papel fundamental para a Igreja: era o prefeito para congregação da doutrina da Fé. Traduzindo para o bom português: O Vaticano, sede da Igreja Católica Apostólica Romana, é considerado um Estado, ou seja, possuí uma estrutura administrativa identica a Alemanha, Inglaterra ou o Brasil - tem ministérios (as prefeituras das congregações) e tem os três poderes isolados (judiciário, executivo e legislativo) no caso todos os três estão centrados na figura do Papa, que vale lembrar é o único monarca absolutista que existe no Ocidente. Sendo o mesmo, Cardeal e prefeito (ministro) de um dos mais importantes segmentos da Igreja - na hierarquia do Vaticano a congregação para a doutrina da Fé, é a mais importante - era o mais natural a sua postura de "parede de chumbo" a favor das idéias já concebidas pela Igreja e também não seria de se espantar ter o mesmo fervor contra as idéias que a Igreja não aceita ou acredita - e em alguns casos a pauta já está ultrapassada para as idéias mediavais da Igreja.

Dado tal cenário, o hoje, Papa Bento XVI, teve acertos e erros em seu pontificado até o presente momento. Afinal, assim como seu patrício Nietzche, somos "humanos demasiado humanos" - logo estamos propensos a erros e acertos. Sim, mas isso dado numa vida papal gera tempestades e bonanças maiores do que para os demais mortais. Se uma ovelha erra, ela tem o perdão do Pastor. Mas e se o Pastoreio comete uma discrepância ? 


O fato atual considera a seguinte situação: O Papa, ao comentar para a mídia partes de textos de um livro que será publicado por ele, disse que liberou para o uso preservativos em caso de risco de contágio de HIV, em se tratando de atos ocorridos com prostitutas ou homens homossexuais (que palavrinha como diria Mario Prata), ponto, mas não o ponto final da história. Ao "liberar" com todas as aspas possíveis, o uso da camisinha, o Papa deu um tiro no pé, simplesmente porque o texto menciona deliberadamente a prostituição. Logo, se percebermos o contexto, moral e principalmente teológico, o tiro saiu bem no prada vermelho que vossa santidade ostenta. É, como um pianista que tem aulas de Mozart, mas no dia do teste cai Choppin.


A Igreja se abrir para as pautas modernas que transitam por uma sociedade cada dia mais modernizada e menos religiosa, é um dia esperado por todos. Viva o dia em que o Vaticano se abrir para o mundo. Mas não dessa forma.
Não adianta mexer no escapamento, se o problema for nos pneus. Vai andar, mas vai continuar fazendo barulho. Primeiramente: Se, a Igreja almeja liberar o uso da camisinha, ela deve fazer isso por inteiro e não por "faixa etária" do pecado, como foram as argumentações do Papa.
Segundamente: Ao liberar o uso de um método contraceptivo, a Igreja mexe diretamente no Catecismo da Igreja, afinal a Santa Sé libera o ato sexual apenas para procriação.


Mas, assim como Nietzche disse que somos humanos, demasiado humanos, ele também disse que sem música, a vida seria um erro. Sem nós humanos com nossos erros e acertos, a vida também seria um grande erro. E há poucos no mundo que entendem tanto de ambos assuntos, como o próprio Papa.
Liberar o uso da camisinha para os gays e prostitutas é apenas o começo da modernização da Igreja.  Modernização que é tantas vezes pedida pelas ovelhas e pela sociedade em geral. 
Cabe aqui o pensamento de que modernizar não é pecar. Seguir as sagradas Escrituras e a Tradição (duas pernas da Igreja) significa estar com os pensamentos e as atitudes no tempo certo, bem como disse Paulo, o Apóstolo (diga-se o preferido deste que escreve).
E tal, como o apóstolo, torça-mos para que a Igreja desbrave o mundo, sempre defendendo o bom combate.