sábado, 15 de janeiro de 2011

O voto molhado

Edney Silvestre resumiu na matéria do JN o atual estado da tragégia no Rio, em São Paulo e Minas. Tudo isso que está acontecendo não é nenhuma novidade. Toda essa tragédia que ocorre com as águas do nosso verão tropical é sempre um mal muito bem anunciado e como já disse o maestro Tom Jobim, essas águas só acabam em março. 
Explicações ? Sim, muitas, mas vamos nos ater a que melhor define e direciona tudo isso: o voto.
Políticas públicas corretas de habitação são a única solução para estas tragédias. Mas todos os nossos políticos, de todos os partidos, não são muito adeptos dessas políticas. Por que ? Porque mexer na casa dos outros, tira voto, mesmo que essa casa fique no meio de um morro, em um país tropical - ou seja, que tem verões muito chuvosos.

Dizer que nessas ocasiões, a culpa é da mudança climática, é tratar com mais desrespeito um problema que assola todas as regiões metropolitanas do país. As cidades não foram preparadas para o crescimento que se viu no país desde os anos 60, quando iniciou-se um êxodo rural, mas isso hoje também não é desculpa nos dias chuvosos em que vivemos. O mundo mudou, nossas cidades também. Hoje temos engenheiros, arquitetos que são especializados em habitações. O mundo fala em sustentabilidade, vida verde, pedale não polua, consumismo sustentável. Al Gore ganhou um Nobel da Paz, brincado de Oliver Stone. 


Pensar verde, significa agir de forma verde e não de forma eleitoreira. Nessa semana, as tragédias que invadiram a vida de cidadãos pobres em São Paulo e principalmente no estado do Rio (mais de 500 mortos contabilizados até hoje) serviram para mostrar o total descaso daqueles que foram eleitos pelo povo para representar o povo. Em São Paulo o tucano Alckmin e o demo Kassab (governador de SP e prefeito da capital, respectivamente) deram um show de lambança e se esqueceram que em boca fechada não entra mosca. Kassab disse que a tragédia só não foi pior por causa das obras que já haviam sido realizadas contra as enchentes. Mentira. A tragédia só não foi pior porque estamos em mês de férias e a cidade de São Paulo está relativamente vazia.  E, se por acaso tivessem sido feitas obras, as enchentes simplesmente não aconteceriam. O governador Alckmin foi outro que não perdeu a chance de ficar quieto. Disse que obras contra enchentes não são feitas da noite para o dia. Ok, está certo, mas e em cinco mandatos consecutivos ? Pois é esse o tempo que o partido do picolé de chuchu está no poder e nesse tempo ele foi vice de Covas, governador eleito, tendo sido reeleito posteriormente.
No estado do RIo de Janeiro, que tem fresco em sua memória as tragédias de Angra dos Reis e Niterói do verão passado, acaba de colecionar mais dor e sofrimento. Dessa vez na região serrana, onde rascunhou-se um novo dilúvio, mas sem arca e sem animais e principalmente sem planejamento público que inviabilizaria toda essa tragédia.


Vejamos: Como se diz no popular, o buraco é mais em baixo, mas um dos grandes problemas das cidades hoje são justamente os buracos - mas no asfalto. As cidades estão todas impermeáveis. Outro grande problema são as ocupações irregulares, que tem esse aspecto apenas em anos normais, porque em anos eleitorais, esse problema passa desapercebido. Temos um elefante roxo na sala, mas ninguém comenta e também ninguém age para tirá-lo de lá. Afinal, elefantes roxos geram votos e enquanto vivermos em um país que o voto e não o povo é a prioridade dos governantes, muitas outras enchentes irão devastar nossas cidades, tanto quanto uma manada de elefantes roxos molhados.



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