A democracia é a melhor forma de experiência que nós já experimentamos. As palavras de Churchill mostram a complexidade da nossa história política. Alguns poderiam dizer que a melhor na verdade é o sexo e isso talvez fosse um pensamento de Freud, mas não é. Mas é verdade que o bom sexo é excepcionalmente democrático. Talvez o ex-primeiro e um dos mais importantes Ministros que o Reino Unido teve, tenha dito isso após uma boa noite a dois ou se fosse o atual premier Italiano, a três, quatro e lá vai orgia noite adentro.
Noite que não tem mais fim, descanso e muito menos sexo, nas ruas das principais cidades do Egito, Tunísia e agora a Argélia. Para completar o mapa, só falta o Marrocos e a Libia se rebelarem. O motivo ? Falta de sexo ? Não necessariamente, mas falta de democracia.
A África sempre foi um barril de pólvora, um canto esquecido do mundo, onde os olhos dos democratas nunca tiveram tempo para piscar o que deixou espaço suficiente para que ditadores seculares dos mais cruéis e desumanos fizessem sexo na posição que bem lhes desse na telha e com quem achassem melhor. Esse continente tão dúbio, lindo e rico em sua natureza, mas miserável em matéria de raça humana e vida pode ser dividido em três partes: A áfrica inglesa, no sul do continente, que abriga o mais rico e importante pais, a África do Sul, Botsuana, Namíbia (a única ex-colonia Alemã), Moçambique e a maça podre, o Zimbábue, do dinossauro Robert Mugabe e da maior inflação do mundo.
Mapa acima, temos a pior parte do continente, a chamada África negra. Um dos locais mais pobres, violentos e não democráticos do mundo. Nigéria (do petróleo cor de sangue), Etiópia (dos piratas modernos), Zaire, Congo (do todo poderoso Mazembe Futebol Clube), Ruanda (do maior genocídio pós segunda guerra), todos países esquecidos pelo mundo.
Deserto do Saara acima, temos a terceira parte, a chamada África árabe, um pedaço que as vezes é mais oriente médio, as vezes é África mesmo. E é nessa parte do mundo em que a temperatura chegou na casa dos oitocentos graus, nesse janeiro mais do que histórico para a história africana. (perdoem a redundância)
Berço de um dos principais impérios do passado, e de boa parte da história registrada pelo homem, inclusive com ricos relatos na bíblia, o Egito hoje vive um momento único. As mesmas areias que viram Cleópatra, Júlio Cesar, Marco Antonio e a própria família de Jesus se refugiar das garras do Rei Herodes, vêem hoje sua população lutar contra as garras de outro ditador. Nem mesmo os hebreus fizeram tanto barulho por lá durante a escravidão.
Mubarak, autocrata há apenas três décadas, conseguiu convencer o povo com sua política bismarquiana do bem- estar social. Dê ao povo o que ele quer e ele não incomodará. Mas o remédio anti-democracia não surtiu mais efeito nesta atual geração que vive sem bons empregos e bons estudos. A economia egípicia, hoje vive do petróleo e do turismo e isso pesou e muito na parca dieta desses jovens que diferentemente de seus pais, conhecem o poder da palavra, da união e principalmente da rede mundial de computadores.
O ditador tunisiano Ben Ali foi o primeiro a cair. E nem se deu ao trabalho de tentar se levantar. Fugido para a Arábia Saudita, deixou o povo falando sozinho e assim abriu as portas para um início do processo de transição entre ditadura e democracia. Menos mau.
Já no Egito, o processo é bem mais penoso, pois o país é o mais importante da região. Tem o maior e mais preparado exército dos arredores, e como já dito anteriormente, tem ouro negro, o que vem bem a calhar para o grande irmão, os Estados Unidos, que como é sabido, fechou os olhos para a ditadura e sempre se fez presente em negociações bilaterais com o pessoal dos camelos e das pirâmides.
Se a esfinge teve o nariz arrebentado pelo exército de Napoleão, Mubarak teve seus planos destroçados primeiramente pela bagunça feita na vizinha Tunísia e segundamente pela própria população que assim como Barack Obama em campanha eleitoral disse “sim, nós podemos”, também perceberam que uma ditadura não cabe mais nos cartões postais do Cairo.
Mubarak renunciou, fugiu assim como seu vizinho e agora o poder está nas mãos do exército, que prometeu um regime de transição, assegurando que as eleições ocorrerão num prazo de seis meses e aqui cabe um ponto importante. Deve-se observar com muito cuidado esse regime transitório, pois, sabemos que muitos destes regimes, instalaram-se na África e nunca mais saíram do poder. Mubarak, havia tentado dar garantias de que nem ele nem seu filho concorreriam nas eleições que devem ocorrer em setembro. Acreditar nisso é tão utópico quanto os faraós acreditavam que teriam suas riquezas no pós vida se fossem enterrados juntos – estes se mostraram errados. Os protestos que já estavam em níveis violentos, não cessariam enquanto o ditador continuassem no poder. Destituir o gabinete e “contratar” de última hora um vice-presidente para chamar de seu, não chega nem de longe, muito menos de perto a ser um ato democrático – até porque o vice é um general, e nós aqui em terras tapuias sabemos muito bem qual é o resultado da mistura exército/política.
Dando razão para o efeito dominó que apareceu no norte do continente, agora quem está fazendo barulho pró-democracia são os argelinos, com exceção de Zinedine Zidane. A história da Argélia, não é muito diferente dos seus vizinhos. País pobre, meio áfrica meio árabe e com ditador a anos no poder, os argelinos estão aproveitando a tempestade de areia que está varrendo o norte do deserto do Saara para se abrir para os caminhos democráticos, assim como fez Moisés ao abrir o mar vermelho.
Discutir se sexo é algo bom, é tão inútil quanto tentar enxugar gelo, é bom, quando é feito com amor, respeito e com direito a uma sacanhagenzinha, afinal a carne é fraca, mas somente se todos esses detalhes forem compartilhados por todos na relação, afinal quando um não quer dois não brigam, ou não transam. Sexo forçado nada mais é do que crime, autocracia também, pois não existe autocrata do bem. Ou vive-se em uma democracia ou em uma ditadura, não existe uma terceira via.
E esse pensamento político sexual, só pode acontecer em cabeças livres, livres para pensar e se expressar. Coisa que as ditaduras nunca permitiram. Nem pensar, nem se expressar e muito menos amar.
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